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domingo, 9 de agosto de 2015

Eu ouvi isso também


Devo avisar que não sou o protagonista desta história, nem fui eu que presenciou, apenas ouvi a história. Vou mudar os nomes, é lógico para evitar de denunciar as pessoas.
 
 
Bem vamos ao fatos. Eu estava sentado no banco escolar quando fomos fazer nossa confraternização de final de ano, afinal de contas, já estamos juntos desde junho deste ano, o que faz da turma que começou com 35 alunos da Pós-Graduação em Direito, passar para apenas 10 regulares e corajosos estudantes.
 
 
Já com uma semana antes das aulas quinzenais, começamos organizar quem levaria o quê para que todos pudessem saciar sua vontade mais de bater papo do que realmente comer, apesar que ninguém dispensou nenhum pedaço de tortas, doces, bolos, sucos que foram por nós levados.
 
 
Eu já havia falado que normalmente as mulheres levariam os comes e os homens os bebes, e que eu iria pegar uma colega na casa dela, para evitar de que ela viesse com as delícias gregas que estavam prontas para nós.
 
 
Uma das colegas, apesar de me chamar de engraçadinho também falou que eu estava sendo aproveitador, imaginem só, eu aproveitador onde?
 
 
Começamos a aula, como combinado, as 08:00h em ponto e todos nós, inclusive o professor daquela turma, estávamos de olho no relógio que fica pendurado na câmera que nos filma. O tempo ia se passando, a fome foi chegando, e todos nós aguardávamos as 10:00h.
 
 
Os debates estavam acirrados quando bateu 10:00h no Mosteiro de São Bento, e nós na Paulista, com ouvidos aguçados, poderíamos ouvir as 10 badaladas nos sinos daquela igreja.
 
 
Mais do que rapidamente, fomos lavar nossas mãos e nos apropriarmos daquela fartura, daquela mesa colorida, daqueles sucos que aplacariam nossa sede. Eram só 15 minutos de lanchinho mas não precisa dizer que como estávamos com o Mestre na Sala, estendemos muito mais que esses 15 minutinhos, afinal de contas, era nossa última aula de 2012.
 
 
Como sempre, quase para acabar o nosso tempo estendido, e longe para acabar o lanche, um colega, que agora não vem o caso seu nome, muito divertido, e diga-se de passagem muito legal começou a contar um “causo”, e como começou muita ênfase, começamos a parar nossos assuntos paralelos, para darmos início a escutar o que o Zeca falava.
 
 
Lá estava o Zeca confessando que passeava num shopping da sua cidade, e digo confessando porque não faz o gênero do Zeca tal atitude, e de repente ele fala de um desconhecido que vinha em sua direção, mas bem distante.
 
 
Logo atrás dessa figura, uma mulata daquelas de fazer fechar as lojas do shopping, ou de parar o trânsito, como se fala. Era uma daquelas mulatas que arrebenta a cabeça de qualquer português, e digo português pela célebre música que diz: “Galinha preta que bota ovo branco, mais de uma vez, pode ter certeza que o galo é português”.
 
 
Essa mulata encontrava-se próximo ao Zeca, e também próximo ao Zeca, um grupo de mocinhas, que riam e conversavam em som alto, atrás desse amigo narrador.
 
 
Também, bem a frente, em sua direção, na linha reta de sua vista, um cara, como diz o Zeca, boa pinta, bem apanhado, um terno alinhado, gravata combinando com a felicidade do ambiente, sapatos engraxados, um lenço branco que segurava em sua mão, e olhar fixo para frente.
 
 
O Zeca, cruzou o olhar com o cidadão, mas não deu a devida atenção, até mesmo porque o olhar desse cidadão, poderia estar na direção da mulata, ou da meninas que estavam próximas ao Zeca.
 
 
Mas, numa segunda olhada, Zeca começou a perceber algo pouco estranho, as meninas todas empolgadas com aquele “pedaço de mal caminho” para elas, começavam a olhar para o cidadão e darem algumas risadinhas insinuantes.
 
 
O olhar do cidadão estava fixo, e mais uma vez Zeca cruzou o olhar, desta vez com uma certa desconfiança. O cidadão agora, passa pelas meninas e continua olhando fixo e Zeca agora preso por aquele olhar compenetrado do cidadão.
 
 
O olhar estava voltada para ele. Era para ele. Zeca começava ficar transtornado, e ali começou a travar a velha e boa cruzada de olhares.
 
 
A batalha começava,com agora a insistência de um jogo, Zeca resolver aceitar, e compenetrou seu olhar nos olhos daquele cidadão.
 
 
O cidadão olhava, Zeca olhava também; o cidadão continuava a olhar e Zeca também. Foram segundos que se tornaram eternidade, e a batalha continuava.
 
 
Os olhares fixos, cada qual nos olhos de seu oponente se mantinha enquanto o cidadão caminhava e Zeca, parado, gélido, estático, ficava aguardando a reação do cidadão.
 
 
Próximo ao elevador, Zeca não se mexia, com a esperança de que fosse para a mulata o olhar, afinal de contas, a pele, os lábios, o rosto, enfim, o conjunto era para deixar qualquer marmanjo “babando”, ainda mais com aquele vestido cujo comprimento era pequeno, bem pequeno.
 
 
Um vestido florido, branco com rosas verdes, deixava aquela pele, achocolatada da mulata, muito mais doce e agradável que um “Sonho de Valsa”.
 
 
E o cidadão vinha, passo a passo, com o olhar fixo no Zeca, e este num repente volta-se para a mulata que estava logo a uns 20 ou trinta passos às suas costas, próximos ao elevador.
 
 
Não era o dia do Zeca, a mulata acabava de chamar o elevador e este começava a descer, e o cidadão de olhos cerrados para nosso amigo Zeca.
 
 
Batalha travada, agora não tinha volta. Encararia com a mesma intensidade aquele olhar, e o cidadão chegando mais perto. 
 
 
Logo, faltando uns 10 passos de seu contato, Zeca olha para a mulata que já não estava mais lá, havia entrado no elevador, e o cidadão vindo a seu encontro.
 
 
A situação estava tensa, quando o cidadão se aproximou de Zeca, que sem ação aguardava com até ansiosidade esse encontro.
 
 
E o cidadão que acabara de chegar até Zeca, parou a sua frente e falou: - “Meu senhor, poderia me informar onde posso encontrar a Rua Tal aqui neste shopping?”
 
 
Rapidamente Zeca o informou, e sentiu-se aliviado por não ter levado a cantada até aquele momento já pré-anunciada.
 
 
Assim sendo, com todos os colegas, agora esclarecidos, fomos deixando nossos lanches, para tomarmos nossos assentos, e começar a aula sobre união Homoafetiva. 
 
 
Foi a graça a aula.
 
 
Então: Prazer em Recebê-los.
 
 
Clóvis Cortez de Almeida

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