Às
vezes ficamos tão entretidos com nossos próprios problemas que muitas vezes não
observamos o que se passa a nossa volta, e olha que isso é mais comum do que
imaginamos.
Ficamos
tantas vezes prestando a atenção no trânsito que não vemos aquele fusca
vermelho que passa ou o carro amarelo, ou qualquer outro carro que normalmente
nos chamaria a atenção.
Muitas
vezes paramos para ficar observando problemas, onde às vezes poderíamos estar
vendo soluções, como é o caso que me aconteceu essa semana.
Estava
não, estou acumulado com o tempo, que tem sido bem pequeno para mim, e que
possui ainda às 24 horas normal que o dia diz que tem, que não estava prestando
a atenção a coisinhas pequenas, tais como o varredor da rua do escritório.
O
dia chega muito rápido, e com isso, levanto pela manhã, tomo meu banho, meu
café já está pronto, posto alguma coisa no Face (porque também já virou mania)
e sigo para meu escritório, que fica a cerca de 30 minutos de casa, isso quando
não tem trânsito.
No
trânsito, aproveito para ir fazendo minha aula de Espanhol, bolando minha nova
petição, a advogada que vou pegar para terminarmos nossas petições, e por aí
vai.
Paro
meu carro no estacionamento, caminho até o escritório, uns 100 metros de
distância, abro o escritório, ligo os computadores, faço minhas orações e daí
começo meu dia.
Bem,
preparado para mais um dia de jornada, começo assim meu dia de laboro, que
muitas vezes não é lá grandes coisas, com reuniões desmarcadas, outra que não
dá em nada, outra que nem acontece, mas estamos lá, persistentes achando que um
dia vai dar certo.
Dinheiro
entra pouco, ou quase nunca entra, mas vamos e voltamos todos os dias, afinal
de contas a persistência é o que conta nessa hora. Um ou outro entra lá no
escritório, uns pedem para postergar, outros para deixar para lá, mas a
persistência continua.
Dá
fome, e daí vamos ao almoço, comemos alguma coisa rapidamente (e não sei o porquê
de ser rápido numa hora dessas), voltamos ao escritório, continuamos as
petições, cobranças e logo já bate 17:00 hs e vamos lá levar a colega para
casa, para daí terminarmos o dia, chegando em casa novamente.
Lar
doce Lar, é o que diz aquela plaquinha que a vovó mantinha na cozinha de casa,
estampando a real felicidade de estar em casa, no meio dos nossos, dos carinhos
daqueles que mantemos contato.
Normalmente
era uma plaquinha de madeira, pintada as letras, ou quando não entalhadas
manualmente a frase, com normalmente a figura da Sagrada Família (para quem não
é católico, Jesus, Maria e José), que ficava na parede contrária a do fogão,
que era para não engordurar com facilidade.
Mas
não tinha jeito, a gordura era inevitável naquilo que define com muita
propriedade à vontade, ou melhor, a certeza de um trabalhador, que sai pela
manhã de sua casa e só volta à noite ou de tardezinha.
Mas
voltando ao escritório, onde eu deveria ter uma plaquinha escrita, ou melhor,
entalhada “Laboro, formoso Laboro”, com a figura da tríade trabalhista, ou
seja, uma enxada, uma caneta e um diploma, porque não?
A
Enxada representaria o esforço do trabalho, a Caneta o trabalho físico e o Diploma
o trabalho intelectual, assim ficaria bem definido o escritório, ou os escritórios
de qualquer um que está lendo, seja ele seu local de trabalho, bem como seu
escritório físico, ou até mesmo onde vai fazer seu trabalho.
Assim
definido, voltemos novamente ao nosso dia, que por sua vez, já está começando
com minha chegada ao estacionamento. Paramos o carro, pegamos aqueles volumosos
processos, acertamos as chaves e nos dirigimos até a nossa sala, que por sua
vez já está aberta, com a chegada mais cedo de um colega que abre gentilmente o
prédio onde temos nosso cantinho.
Ao
chegar à calçada de nosso escritório, normalmente nos deparamos com o servente
de rua, que está lá, alegre, limpando a calçada que estamos passando, e o
cumprimento é agradavelmente inevitável.
Bom
dia, e a resposta vêm em seguida com um sonoro Bom Dia, daquele que contribui
com seu esforço para o nosso bem estar. Estamos então preparados para começar o
nosso dia de laboro, enquanto o Sr. José já está fazendo isso há muito tempo.
Ontem
não foi diferente, deixei o carro, peguei os processos, atravessei a rua, e
quase que automático já ia falando Bom Dia ao Sr. José (nome que nunca soube de
verdade), mas notei algo estranho em seu uniforme. Estava mais cheio,
parecia-me mais feminino, e não era mesmo?
Era
a Dona Maria (nome que inventei agora), que estava varrendo minha calçada. Ela
ficou assim meio aturdida com meu sonoro Bom Dia ia inundando aquele ambiente,
mas com muita reserva, com certo constrangimento me respondeu Bom Dia.
Não
esboçava nenhum sorriso, nada como o Sr. José, parecia estar muito longe, e
notei uma gota de lágrima em seus olhos.
Não
tive dúvidas, perguntei o que se tratava aquela lágrima, e chamei-a para que
entrasse em meu escritório. Ela ficou mais inibida ainda, mas aceitou, até
mesmo porque queria ir ao banheiro e tomar água.
Enquanto
ela ia se refrescando, peguei um copo de Água e um de Suco para oferecer aquela
que estava motivada, e que por um acaso estava ali, no meu escritório, talvez
querendo falar com alguém.
Ela
saiu, aceitou a água, tomou também o suco com bolacha, já que não fico sem
minha bolachinha pela manhã, e foi agradecendo e já ia saindo. Perguntei então
a ela pela segunda vez, o que se tratava aquela lágrima em seus olhos, quanto
tive a mais dura das respostas.
-
Meu filho, disse ela, estou aqui porque meu marido hoje não se encontrava bem
de saúde e foi ao hospital ver a dor nas costas. Estou aqui desde as 05:00
horas da manhã, e já eram 09:30 horas, e eu havia sido o primeiro a falar um
bom dia para ela.
-
Foi uma verdadeira bênção o que o senhor fez, pois não sabia que meu marido era
tão querido assim aqui na rua. Ele não veio, mas em casa não podemos ter uma
falta no serviço porque senão o dinheiro do final do mês fica pouco. Então vim
no lugar dele. Assim não há como ficar sem o dinheirinho no final do mês.
Emocionou-me
ao saber que até àquela hora do dia ela não havia recebido uma saudação sequer.
Hoje
volto para o escritório, talvez não veja a Dona Maria, ou talvez sim, não sei,
mas só sei que tenho muito que aprender com esse povo que me cumprimenta todos
os dias, graças a um paletó, gravata, sapato engraxado, camisa passada, uma
pastinha na mão.
Essa
sociedade que fala bom dia pelo Facebook, mas não se dispõe a falar bom dia
presencialmente. Que se dizem super educados no virtual, mas não são nada
educados no presencial.
Assim,
fica aqui meu bom dia ao Varredor de Rua, ao Lixeiro, ao Esticador de Cabos, ao
Eletricista, ao Técnico, a todos, sem distinção, não espere com distinção sim,
àqueles que por um acaso vestem Paletós e Gravatas, ou Jalecos Brancos, que
sequer têm educação para falar Bom Dia.
Só
resta agora, falar a esse grupo de pessoas, Prazer em Recebê-los, de verdade,
não de boca para fora, mas de coração, pois vocês sabem deixar meu dia mais
limpo, mais bonito, mais alegre.
Clóvis
Cortez de Almeida.
(Nota
– o dia colocado aqui não é o verdadeiro, os nomes também os são, mas os
sentimentos, esses sim são reais).