Não sei se falar em
acomodação seria politicamente correto em um mundo onde somos quase obrigados a
ser politicamente corretos.
Não podemos falar de cor
das pessoas, de seu estado sexual, de sua situação financeira, de suas condição
social, de seu modo de expressão, porque senão incorremos no erro de estarmos
fora do contexto, completamente fora dos padrões hipócritas da sociedade.
Quando falo em hipócritas
é verdadeiramente o que penso da sociedade atual.
As pessoas começaram com
essa globalização verbal, com essa rapidez de comunicação, dessa velocidade de
comentar, se achar no direito de dar “pitaco” na vida alheia.
Comentar sobre a vida do
vizinho, do parente, das pessoas próximas e distantes, passaram a ser mais que
uma simples fofoca, passou a ser o principal meio de diversão ou de observação
do ser humano.
"Sabe aquele cara ali,
fiquei sabendo que...", ou então "Minha nossa, fulano de tal, veja bem, não é
fofoca, mas ele está saindo com fulana de tal, e veja que ela e ele são
casados..., mas não um com o outro..."
"Aquele que vai na outra
calçada veste peruca de touro...", ou então, "Minha nossa, minha vizinha não sabe
cozinhar e se mete na cozinha..."
"Aquele cara me paga,
vejam o traste que ele é..." e isso vai se juntando de uma forma que as pessoas
nem percebem que deixaram de ser convenientes para ser totalmente
inconvenientes.
Comecei a ter um certo
atrativo ao assunto, tão logo comecei a fazer uma Pós em Direito de Família e
Sucessões, e olhe que nessa matéria, o advogado que pretende atuar, tem que
saber lidar com o barraco alheio.
Essa coisa de barraco
mesmo, de um cara puxar a peixeira para o outro, fazer um furo na barriga do
outro, ou então de ir na frente da casa da outra, puxar-lhe os cabelos, falar
palavrões e até agressão feminina, que de uma forma ou de outra é hilário se
não fosse trágico.
Mas quando o caso apenas
é de barraco, daqueles que a turma menos instruída costuma a fazer perante uma
câmera ou na presença de outras pessoas, ainda vai tudo bem.
O duro quando passa do
barraco declarado e começa o barraco velado, daquele que fica ventilando no
ouvido de outros suas opiniões somente para apimentar uma situação.
Não se pode dimensionar o
quanto isso é prejudicial para aquele que está sofrendo da tortura escravista
ou que está sendo massacrado com a piadinha dos outros, ou da instigação às
brigas advindas.
Acredito que todos tem um
amigo, um parente que não vê a hora de ter uma notícia nova na família para
apimentar a relação, principalmente se for parentes de segundo ou terceiro
graus.
Não medem esforços para
dizer a outro parente, que está completamente alheio ao assunto, sobre a
fulana, ou o fulano.
"Minha filha, fulana de
tal está na maior traição", ou "fulana de tal está gastando mais do que pode", ou
"aquele cara é frouxo, está levando chifre e não faz nada".
Mas não sabe o motivo que
está levando a isso, se por um acaso é uma falta de carinho em casa, ou de um
grande amor que surgiu e que apenas quer corresponder.
Situações surgem a todos
os momentos, casos também, coisas também.
E o pior disso tudo é que
por incrível que pareça, quando se começa uma ventilação de um boato, até mesmo
de uma verdade, as coisas acontecem, e acontecem justo com aquele que começou
com a boataria.
Aquela pessoa que começou
a ventilar entre outros que fulana estava traindo ou que fulano estava traindo,
acaba por desfazer-se de um “Amor Duradouro”, tudo isso porque encontrou uma
nova paixão.
Aquele que falou que o
carro do outro, acaba tendo seu veículo pifado, aquele que fica fazendo o
barraco na porta de outros, acaba tendo a polícia defronte a sua casa pelo
mesmo motivo.
Isso é a lei da natureza,
onde "o que aqui se faz, aqui se paga". É a chamada lei do Carma, onde o retorno
pode não ser imediato, mas se faz presente.
Não depende de nós, e não
depende do Criador, mas sim de nossas atitudes, de nosso modus operandis. Assim é a
vida, e nos perguntamos o porquê as pessoas insistem em continuar agindo dessa
maneira.
Rejeitamos intervenções,
não queremos bisbilhoteiros em nossa vida, mas o complexo modo de comunicação
que vivemos, na velocidade “gigatempo” que estamos vivendo, é muito comum
querermos intervir na vida alheia, no comportamento de um terceiro.
É muito rápido, em
segundos estamos na China, ou em segundos estamos em um ponto do Brasil, e
nossa comunicação cada vez mais rápida torna-se cada vez mais imprecisa.
Vocês já conhecem a
história daquela pessoa que vai contando um conto no primeiro elo da corrente
humana, e quando chega ao último elo, a história já está distorcida, mas sem
condição de ser consertada.
É dessa forma que caminha
a humanidade, apenas a frivolidade de comentar a notícia, sem ao menos checar o
porque dos acontecimentos.
Isto não é "Acomodação, é Fofoca".
Prazer em Recebê-los.
(Clóvis Cortez de
Almeida)