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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Uma questão de honra



Para mim, palavra é palavra, não se volta atrás, mas não é assim para todos.
Quando pequeno, meus pais sempre me educaram na sintonia do Certo, da coisa Certa, da Atitude Certa, e esse comportamento vem me seguindo ao longo dos meus 52 quase 53 anos de idade.
As coisas nem sempre são fáceis, mas quando nos é apresentada, temos que tomar um fôlego, analisar friamente o problema e daí sim, se comprometer ou não com o problema apresentado.
Certa vez, ainda moleque estudando eletrônica, quando eu e um colega pegamos um televisor para consertar, um televisor colorido de 19”, Philco, B-819, tivemos um episódio interessante.
Estava ainda no começo da carreira de Técnico, sem muita experiência, pois no local onde trabalhava, eu era técnico de TV preto e branco valvulares.
Mas isso não me assustava, mesmo porque minha curiosidade pela tecnologia estava acima de mim, e meu furor em desmontar e montar as coisas, saltavam de minhas veias.
O que me aterrorizou, foi saber que aquela TV em particular, pega pelo colega, era apenas do Chefe do Meu Pai, um então Tenente da Aeronáutica, da Base Aérea de São Paulo, conhecida como Cumbica.
Abri o equipamento, examinei-o profundamente, coloquei o fio na tomada e liguei.
Aparentemente tudo funcionando, conforme mostrava um Meeter (Abreviação de Multimeter), um equipamento caro para os padrões da época que havia ganho dos meus pais.
Fonte baixa ok, fonte alta ok, AGC (automatic gain control) ok, AT (alta tensão) também ok, e a imagem foi surgindo suavemente, mas um pouco distorcida.
Um ponto vermelho que não se sobrepunha sobre o ponto azul e que não se sobrepunha sobre o verde. Parecia o que hoje chamamos de 3D.
A convergência dessas três cores primárias, é que faziam o branco total na tela, pois está errado quem pensa que cor primária é vermelho, amarelo e azul.
Respirei fundo, pois naquele momento já sabia o que era, pensei, meditei e por fim falei ao colega: É o Chadomask (tela que ia dentro do Tubo, fina que em cada ponto passava 3 feixes de luz, produzindo as cores).
Dentre as broncas que levei em casa, por estar consertando algo que não entendia direito, e aquela coisa era do chefe do meu pai, custava o TRC (tubo de raios catódicos) o equivalente hoje a um carro zero popular.
Chamei o dono da TV, lógico que em horário que meus pais não estavam em casa, expliquei com teoria o defeito e ele aceitou em fazer o conserto.
A partir desse momento, a lição maior que meus pais me ensinaram começavam a fazer sentido, de nunca prometer, mas eu já havia pego o dinheiro do dono da TV.
Já estava compromissado, enrolado até mais do que o pescoço, sem poder dizer que não iria fazer para o dono da TV e sem poder dizer aos meus pais que iria consertar a TV.
O tempo, logicamente passou, e com ele a idade adulta veio, trazendo consigo mais responsabilidades até um dia em que fui chamado para fazer parte de uma organização, e nesta organização, o vigésimo nono mandamento diz: “Você não é obrigado a prometer, mas uma vez o fazendo se torna responsável”.
Isso calou fundo em meu pensamento e hoje, para cada ação que prometo fazer, me utilizo dessa máxima, e porque já foi analisado, previsto as circunstâncias certas e erradas, totalmente consciente da responsabilidade, e com um quesito a mais, o de sempre respeitar a máxima ensinada, não por essa organização, mas pelo meu pai que me introduziu as boas condutas.
Assim sendo, deixo a todos o meu respeito e sinceros votos de …
Há, a TV?
Sim, era realmente o TRC, que troquei ajustei e ficou como nova.
Prazer em Recebê-los
Clóvis Cortez de Almeida

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