Engraçado,
como a mente nos prega uma peça nos fazendo esquecer de certos
detalhes de nossa vida, e daí, com uma pequena conversa com nossos
pais, e tudo volta como se fosse ontem, como que acabara de
acontecer.
Não faz tanto
tempo assim, foi em 1968, pelo menos para mim parece que foi ontem,
quando meu pai se inscreveu em um curso da igreja católica, pelo
nome de Cursilho e foi lá fazer. Foi um período de 3 dias, uma
sexta, um sábado e um domingo, culminando para que seu retorno fosse
cheio de festas, com muitos cursilhistas em casa dando-lhe boas
vindas.
Logo em
seguida, minha mãe foi fazer também o Cursilho, e teríamos, eu e
minha irmã que ficar sem a mamãe por longos três dias, uma sexta,
um sábado e um domingo.
Meu pai, na
sexta tudo bem, convencendo a mim e a minha irmã, naquela época a
única irmã Sandra, que era a caçulinha de casa, a ficarmos sem
muito choro, sem muito “Eu quero minha mãe”, e com um pouco de
habilidade ia nos convencendo de que mamãe voltaria logo.
No sábado para
nos entreter, fomos levados a uma espécie de supermercado, onde se
vendia também eletrodomésticos e lá fomos comprar um “presente”
para minha mãe.
Já estávamos
começando a ficar com Saudades da Mãe, pessoa da qual nunca ficamos
tanto tempo assim separados, e meu pai, com a psicologia que ele tem,
e ainda não sabia, nos convidou para dormir, e que no dia seguinte
faríamos algo especial para nossa Mãe, que segundo ele chegaria de
uma forma muito especial, de um lugar muito especial, e com um
coração também muito carregado de amor para nós.
Pois bem,
colocamos nosso pijaminha e fomos para cama ao som de “Está na
hora de dormir, não espere mamãe mandar, um bom sono para você e
um alegre despertar”.
É um jingle
que foi lançado na época que estava como se diz hoje, pronto para
“bombar” na mídia da época, uma televisão em preto e branco,
com 3 canais para assistir, Tv Tupy, Tv Excelcior e Tv Cultura.
Como a Cultura
não continha Comerciais, então sobrava para nós ver o desenho nas
outras Tv's privadas, e dava 21:00h em ponto e o comercial veiculava
e nossos pais, só com um olhar nos mandava para cama, coisa que
fazíamos por respeito à autoridade paternal.
No dia
seguinte, tomamos nosso café, também embalados em outro comercial
que também iniciava no rol das propagandas que deram certo, e ela
dizia mais ou menos assim: “Depois de um sonho bom, a gente
levanta, toma aquele banho, escova os dentinhos. Na hora de tomar
café, é o café Seleto, que a mamãe prepara, com todo o
carinho...”; e assim o jingle ia dando nossos passos por mais um
dia.
Não preciso
dizer que os “reclames” ou comerciais da época nos ensinaram
muito, desde a hora de levantar até a hora de deitar, éramos
embalados com essas propagandas educacionais.
O dia se passou
e meu pai com a surpresa que faríamos a minha mãe, que chegaria
aquela noite do tal Cursilho.
Meu pai, então
nos levou a cozinha da nossa casa e pegou um livro de receita da
minha mãe, e falou que iríamos fazer um bolo.
Era uma glória
ver meu pai na cozinha, com seus filhos, fazendo uma coisa que na
época era tipicamente da dona de casa, mas que iria servir para
entreter a nós.
Começou com a
farinha, os ovos e a cada ingrediente colocado e que iria ser batido
na tigela, meu pai simulava uma força maior, porque a massa estava
ficando cada vez mais espessa, e com isso precisaria de uma forma
especial para bater o bolo.
Meu pai, sempre
com bom humor, começou subindo na cadeira, tirou a camisa, e com um
avental que tampava um pouco seu umbigo, iria simulando uma força descomunal.
Subiu na mesa,
fazia caretas, e eu e minha irmã Sandra, ríamos e participávamos
daquela que para nós era uma verdade, não uma simulação.
Foi uma
diversão só. Minha Mãe, prestes a voltar para casa, e nós lá
fabricando o bolo, que até então prometia ficar muito gostoso, e
não é que ficou mesmo?
Ao chegar,
minha Mãe encontrou a casa cheia de bexigas, ou balões como
queiram, confetes e um monte de cartazes que dizia que ela estava
sendo aceita naquele núcleo familiar agora cheio de religiosidade e
também de muito amor de seus filhos.
E lá chegou
minha Mãe, e mal ela foi chegando, nós que havíamos escondido o
presente que iríamos dar a ela, retiramos do Armário do Corredor da
casa, o pacote que meu pai havia comprado.
Ela abriu o
presente. Era uma Batedeira de Bolos.
Assim, Prazer
em Recebê-los.
(Clóvis Cortez
de Almeida)
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