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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Será que Bater um bolo é assim?



Engraçado, como a mente nos prega uma peça nos fazendo esquecer de certos detalhes de nossa vida, e daí, com uma pequena conversa com nossos pais, e tudo volta como se fosse ontem, como que acabara de acontecer.
Não faz tanto tempo assim, foi em 1968, pelo menos para mim parece que foi ontem, quando meu pai se inscreveu em um curso da igreja católica, pelo nome de Cursilho e foi lá fazer. Foi um período de 3 dias, uma sexta, um sábado e um domingo, culminando para que seu retorno fosse cheio de festas, com muitos cursilhistas em casa dando-lhe boas vindas.
Logo em seguida, minha mãe foi fazer também o Cursilho, e teríamos, eu e minha irmã que ficar sem a mamãe por longos três dias, uma sexta, um sábado e um domingo.
Meu pai, na sexta tudo bem, convencendo a mim e a minha irmã, naquela época a única irmã Sandra, que era a caçulinha de casa, a ficarmos sem muito choro, sem muito “Eu quero minha mãe”, e com um pouco de habilidade ia nos convencendo de que mamãe voltaria logo.
No sábado para nos entreter, fomos levados a uma espécie de supermercado, onde se vendia também eletrodomésticos e lá fomos comprar um “presente” para minha mãe.
Já estávamos começando a ficar com Saudades da Mãe, pessoa da qual nunca ficamos tanto tempo assim separados, e meu pai, com a psicologia que ele tem, e ainda não sabia, nos convidou para dormir, e que no dia seguinte faríamos algo especial para nossa Mãe, que segundo ele chegaria de uma forma muito especial, de um lugar muito especial, e com um coração também muito carregado de amor para nós.
Pois bem, colocamos nosso pijaminha e fomos para cama ao som de “Está na hora de dormir, não espere mamãe mandar, um bom sono para você e um alegre despertar”.
É um jingle que foi lançado na época que estava como se diz hoje, pronto para “bombar” na mídia da época, uma televisão em preto e branco, com 3 canais para assistir, Tv Tupy, Tv Excelcior e Tv Cultura.
Como a Cultura não continha Comerciais, então sobrava para nós ver o desenho nas outras Tv's privadas, e dava 21:00h em ponto e o comercial veiculava e nossos pais, só com um olhar nos mandava para cama, coisa que fazíamos por respeito à autoridade paternal.
No dia seguinte, tomamos nosso café, também embalados em outro comercial que também iniciava no rol das propagandas que deram certo, e ela dizia mais ou menos assim: “Depois de um sonho bom, a gente levanta, toma aquele banho, escova os dentinhos. Na hora de tomar café, é o café Seleto, que a mamãe prepara, com todo o carinho...”; e assim o jingle ia dando nossos passos por mais um dia.
Não preciso dizer que os “reclames” ou comerciais da época nos ensinaram muito, desde a hora de levantar até a hora de deitar, éramos embalados com essas propagandas educacionais.
O dia se passou e meu pai com a surpresa que faríamos a minha mãe, que chegaria aquela noite do tal Cursilho.
Meu pai, então nos levou a cozinha da nossa casa e pegou um livro de receita da minha mãe, e falou que iríamos fazer um bolo.
Era uma glória ver meu pai na cozinha, com seus filhos, fazendo uma coisa que na época era tipicamente da dona de casa, mas que iria servir para entreter a nós.
Começou com a farinha, os ovos e a cada ingrediente colocado e que iria ser batido na tigela, meu pai simulava uma força maior, porque a massa estava ficando cada vez mais espessa, e com isso precisaria de uma forma especial para bater o bolo.
Meu pai, sempre com bom humor, começou subindo na cadeira, tirou a camisa, e com um avental que tampava um pouco seu umbigo, iria simulando uma força descomunal.
Subiu na mesa, fazia caretas, e eu e minha irmã Sandra, ríamos e participávamos daquela que para nós era uma verdade, não uma simulação.
Foi uma diversão só. Minha Mãe, prestes a voltar para casa, e nós lá fabricando o bolo, que até então prometia ficar muito gostoso, e não é que ficou mesmo?
Ao chegar, minha Mãe encontrou a casa cheia de bexigas, ou balões como queiram, confetes e um monte de cartazes que dizia que ela estava sendo aceita naquele núcleo familiar agora cheio de religiosidade e também de muito amor de seus filhos.
E lá chegou minha Mãe, e mal ela foi chegando, nós que havíamos escondido o presente que iríamos dar a ela, retiramos do Armário do Corredor da casa, o pacote que meu pai havia comprado.
Ela abriu o presente. Era uma Batedeira de Bolos.
Assim, Prazer em Recebê-los.
(Clóvis Cortez de Almeida)

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