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sexta-feira, 26 de julho de 2013

E a Criança se fêz Gigante



Fui me dando conta de que julho está chegando ao fim e com ele o meu curso de Doutorado já está na metade, e as consequências de que minha estadia com minha mãe também está terminando na cidade de Buenos Aires.
É um período tão pequeno, mas tão curto que quando vamos nos dar conta do fato, o período de quinze dias já está finalizando e com ele temos que começar a arrumar nossas malas.
Antes de colocarmos nossas camisas, nossas calças dobradas e guardadas, precisamos arrumar para que nenhum vínculo fique pregado nas peças de roupas, ou que nenhuma lembrança ruim possa abarrotar nossa bagagem como nos quer nossos pensamentos inimigos.
Toda viagem tem um começo e esse se deu quando em casa comentei que estava embarcando para o país vizinho, só, sem muita bagagem, sem alguém para falar ou para trocar ideia.
Seria uma quinzena de total silêncio, onde quem mais gritaria seria minha consciência, que por certo estaria falando alto, sem muita censura, ou até mesmo sem uma única censura.
Ao comentar em casa, minha mãe esboçou uma forte vontade de vir comigo, para companhia, para ficar apenas dentro de um quarto de vinte e cinco metros quadrados, com apenas uma televisão que fala em Espanhol, e o silêncio de tudo que podemos chamar de sociedade, apenas pelo prazer de me fazer acompanhado por um membro da família, que desta vez não poderia ser minha esposa.
Compramos a passagem, e embarcamos, eu rumo a mais um módulo de meu curso, e ela para mais um período de reclusão, já que sua visão não mais ajuda a caminhar com facilidade só, pelas ruas de uma cidade até então desconhecida.
Também, devido a um pequeno problema auditivo, ao retirar os aparelhos que a mantém ligada ao nosso mundo pelos sons, fica ela alheia de tudo, até mesmo de um grito dado, ou de alguém que lhe dirija a palavra, mesmo que em tom bastante forte, alto o suficiente para balançar as estruturas do apartamento.
O importante é que chegamos ao local, e assim começamos nossa jornada não só de estudo mas para mim também uma jornada extra de esforço, em que meus medos, meus receios motivados ao meu coma, não podem se manifestar, principalmente para que ela se sinta segura ao meu lado.
Estava comentando com ela mesmo a respeito do que é uma síndrome do Pânico, e explicando o meu esforço duplo para me manter firme, na trilha, sem deixar o carro escapar, para que ela possa estar confiante no motorista, e ela com sua sabedoria, me levantava o astral, me colocava para cima, não deixando a manifestação deste medo que me acompanha desde que saí do meu coma.
Palavras de muita sabedoria de uma mulher que mede um metro e cinquenta e oito centímetros, mas que se agiganta ao falar, e de muita força para quem precisa se apoiar a alguém para andar nessas horríveis calçadas Portenhas.
E agora, defronte minha mala, começo colocando minha calça, mas além de minha calça coloco também na bagagem um alívio por ter vencido, um desafogo por ter conseguido conduzir minha mãe na capital Argentina.
É como se o esforço fosse compensado, ao olhar para trás e ver aquele menino apavorado, e agora com rosto aliviado, com a sensação de dever cumprido, e seu diploma, não de Doutorado, mas seu diploma da vida lhe fosse entregue, sem mácula, completamente atualizado, sem mesmo tendo seus caracteres esmaecidos pelo tempo.
Foram metade de um mês que passou sem que me desse conta da tamanha responsabilidade que assumi, e agora que tudo já passou, que meus desafios finais estão restritos a pegar um táxi e dirigir-me ao Aeroporto, fazer o embarque para São Paulo, meus ombros se tornaram uma tonelada mais leve.
Assim, vendo esse breve período, com olhos de apenas um observador, venci, e essa vitória está relacionado diretamente à fortaleza que se chama Mãe.
Meus agradecimentos ao meu Pai, que permitiu ficar na ausência de sua esposa para acompanhar-me nessa viagem, a minhas irmãs, que também como eu, frágeis também necessitam da presença dessa mulher e tiveram o altruísmo de destituir-lhe dos afazeres para que pudesse ficar comigo, também meu muito obrigado.
Meu muito obrigado, minha Mãe, pela disponibilidade de estar com seu filho mais velho de idade, mas que nesses quinze dias se tornou mais um garotinho em suas mãos.
Assim sendo, Prazer em Recebê-los, Prazer em Tê-la comigo minha Mãe.
(Clóvis Cortez de Almeida)

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