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terça-feira, 28 de maio de 2013

Acomodação


 
Não sei se falar em acomodação seria politicamente correto em um mundo onde somos quase obrigados a ser politicamente corretos.

Não podemos falar de cor das pessoas, de seu estado sexual, de sua situação financeira, de suas condição social, de seu modo de expressão, porque senão incorremos no erro de estarmos fora do contexto, completamente fora dos padrões hipócritas da sociedade.

Quando falo em hipócritas é verdadeiramente o que penso da sociedade atual.

As pessoas começaram com essa globalização verbal, com essa rapidez de comunicação, dessa velocidade de comentar, se achar no direito de dar “pitaco” na vida alheia.

Comentar sobre a vida do vizinho, do parente, das pessoas próximas e distantes, passaram a ser mais que uma simples fofoca, passou a ser o principal meio de diversão ou de observação do ser humano.

"Sabe aquele cara ali, fiquei sabendo que...", ou então "Minha nossa, fulano de tal, veja bem, não é fofoca, mas ele está saindo com fulana de tal, e veja que ela e ele são casados..., mas não um com o outro..."

"Aquele que vai na outra calçada veste peruca de touro...", ou então, "Minha nossa, minha vizinha não sabe cozinhar e se mete na cozinha..."

"Aquele cara me paga, vejam o traste que ele é..." e isso vai se juntando de uma forma que as pessoas nem percebem que deixaram de ser convenientes para ser totalmente inconvenientes.

Comecei a ter um certo atrativo ao assunto, tão logo comecei a fazer uma Pós em Direito de Família e Sucessões, e olhe que nessa matéria, o advogado que pretende atuar, tem que saber lidar com o barraco alheio.

Essa coisa de barraco mesmo, de um cara puxar a peixeira para o outro, fazer um furo na barriga do outro, ou então de ir na frente da casa da outra, puxar-lhe os cabelos, falar palavrões e até agressão feminina, que de uma forma ou de outra é hilário se não fosse trágico.

Mas quando o caso apenas é de barraco, daqueles que a turma menos instruída costuma a fazer perante uma câmera ou na presença de outras pessoas, ainda vai tudo bem.

O duro quando passa do barraco declarado e começa o barraco velado, daquele que fica ventilando no ouvido de outros suas opiniões somente para apimentar uma situação.

Não se pode dimensionar o quanto isso é prejudicial para aquele que está sofrendo da tortura escravista ou que está sendo massacrado com a piadinha dos outros, ou da instigação às brigas advindas.

Acredito que todos tem um amigo, um parente que não vê a hora de ter uma notícia nova na família para apimentar a relação, principalmente se for parentes de segundo ou terceiro graus.

Não medem esforços para dizer a outro parente, que está completamente alheio ao assunto, sobre a fulana, ou o fulano.

"Minha filha, fulana de tal está na maior traição", ou "fulana de tal está gastando mais do que pode", ou "aquele cara é frouxo, está levando chifre e não faz nada".

Mas não sabe o motivo que está levando a isso, se por um acaso é uma falta de carinho em casa, ou de um grande amor que surgiu e que apenas quer corresponder.

Situações surgem a todos os momentos, casos também, coisas também.

E o pior disso tudo é que por incrível que pareça, quando se começa uma ventilação de um boato, até mesmo de uma verdade, as coisas acontecem, e acontecem justo com aquele que começou com a boataria.

Aquela pessoa que começou a ventilar entre outros que fulana estava traindo ou que fulano estava traindo, acaba por desfazer-se de um “Amor Duradouro”, tudo isso porque encontrou uma nova paixão.

Aquele que falou que o carro do outro, acaba tendo seu veículo pifado, aquele que fica fazendo o barraco na porta de outros, acaba tendo a polícia defronte a sua casa pelo mesmo motivo.

Isso é a lei da natureza, onde "o que aqui se faz, aqui se paga". É a chamada lei do Carma, onde o retorno pode não ser imediato, mas se faz presente.

Não depende de nós, e não depende do Criador, mas sim de nossas atitudes, de nosso modus operandis.  Assim é a vida, e nos perguntamos o porquê as pessoas insistem em continuar agindo dessa maneira.

Rejeitamos intervenções, não queremos bisbilhoteiros em nossa vida, mas o complexo modo de comunicação que vivemos, na velocidade “gigatempo” que estamos vivendo, é muito comum querermos intervir na vida alheia, no comportamento de um terceiro.

É muito rápido, em segundos estamos na China, ou em segundos estamos em um ponto do Brasil, e nossa comunicação cada vez mais rápida torna-se cada vez mais imprecisa.

Vocês já conhecem a história daquela pessoa que vai contando um conto no primeiro elo da corrente humana, e quando chega ao último elo, a história já está distorcida, mas sem condição de ser consertada.

É dessa forma que caminha a humanidade, apenas a frivolidade de comentar a notícia, sem ao menos checar o porque dos acontecimentos.
Isto não é "Acomodação, é Fofoca".

Prazer em Recebê-los.

(Clóvis Cortez de Almeida)

 

 

10 comentários:

  1. Engraçado, Clóvis... Eu acho que não estou bem. Acho que chorar pelas coisas é uma perda de tempo, mas, só sinto vontade disso, alem de nem sair prá nada, queria ficar quietinha debaixo dum cobertor e com o quarto trancado, no escurinho...
    Sabe qdo vc luta, luta, luta? Dai leva um tiro e precisa parar. Me deram um tiro no peito. Ao invés de sangue, o que sai é plasma da vontade de se fazer algo, qualquer coisa.
    Uma hora isso passa.

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    1. Cara Lilith, o texto apenas representa uma posição quase que isolada da aula da Pós Graduação que estou fazendo e também do Doutorado. Não tenho maioria em minhas salas, mas continuarei lutando. Você não? Temos que lutar para tirar essas barbáries do nosso caminho.

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    2. A questão do tiro no peito... Tem uns 15 dias que estou assim. Acho que o saber que uma pessoa que eu gosto muito cometeu um erro que cometi tb de ousar amar outra pessoa além do meu casamento, que pediu que meu marido me repudiasse, outros dizendo para que ele me matasse. Tb tenho estudado sobre alguns pontos da Madre Tereza, alguns pensamentos... O fato de um sentimento de amor, abandono. São coisas que a gente supera, mas, sabe qdo vem tudo em forma de uma avalanche pra cima de você? Todo o sentimento, toda lembrança, tudo o que vc luta todos os dias para esquecer? Sabe quando está cercado de pessoas o dia todo até e ainda assim se sente imensamente sozinha? Qdo precisa ou precisou de apoio e nao encontrou ninguém, nada, além de críticas e repudio? Sabe quando não se atreve nem mesmo a pensar sobre alguns fatos de sua vida e esses pensamentos vem em forma de bala e dilaceram seu coração? E vc está só? Não pode pedir socorro ou pede e ninguém te ouve? Acha que não precisa? Já se sentiu assim? Já precisou de socorro e não pôde contar com ninguém?
      Continuará lutando... Pelo quê, Clóvis? Por quem? Para quê? Para quem?
      Não sou uma pessoa que baixa a cabeça fácil, nem chora. Realmente acho que isso não resolve e um guerreiro morre sempre em pé, mas, todo guerreiro tem um ponto fraco. O meu é o abandono, é essa sensação de lutar em vão, é o sentir-se desolado, abandonado, deixado. OK, eu sei. Todo mundo passa por isso, mas, um alguns sobrevivem a atentado a arma de fogo, outros não.
      Claro, vou sobreviver, mas, honestamente, só queria ficar no escuro do meu quarto até essa sensação passar, mesmo pq a gente fala muita besteira quando está assim, acredito, como pode ver...
      E é isso...

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    3. Mas, por que os detalhes de tiro no peito?

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  2. Estava aqui pensando, Clóvis naqueles momentos primeiros, discussões de Santas a parte, padroeiras a parte. Sabe aquela ingenuidade, aquele paternalismo se estiver sendo clara? O aquário. Era isso que eu queria. O que eu fiz prá simular? Comprei dolce que acabou o meu. É fácil se transportar com cheiros e aromas. Ontem comprei. Fui passar agora para isso. Caiu da embalagem... Acabou de se espatifar no chão da sala. Aroma agora tem, um monte. Mas, até quando dura o perfume? Era a única, única chance de voltar àquilo, àquele conforto, aquela sensação unica? Os pensamentos, impossivel sentir-se só. E é um só que grita fininho, sabe? Sabe esses cortes com papel?
    Sempre joguei areia por cima de um monte de questões minhas. Isso nao consigo. É areia movediça. Jogo e sempre ela sai.
    Por isso quis saber o que tinha ai, bem no fundo. Não sou de jogar a toalha, se me conhecesse, veria que nao... Mas, hoje, sinto muita, muita falta de tudo isso... E de outras coisas que me tiravam o ar. Besta, ne? Patético.
    Alias, nem sei o que se da prá fazer com isso, por isso acho que nao adianta chorar. Só um desabafo mesmo.

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  3. Já sei! Vou arrumar um amante!

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  4. Boa saída minha querida, e daí você ficará sendo ventilada a quatro cantos por quem? Família, Amigos? Qual deles têm mais inveja de você? Então Prazer em Recebê-la.

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  5. E vc acha mesmo que é verdade? Não use os olhos físicos que são miopes, amplie isso. O que disse é pelo jeito que as pessoas encaram tudo. Acredite, a gente comete um erro uma vez. Pelo que vejo do mundo isso virou uma banalidade, mas, enfim... Não teria mesmo como entender. Se um dia me envolvi ou me envolver com alguém é unicamente por conta de amor, senão, nao vale a pena. Envolver por envolver, tem-se muitas possibilidades por ai, até pagando tem. Mas, onde é que fica o amor? E mesmo assim, o povo fala...
    Mas, não tem como vc entender pq não estava envolvido, não tem como sentir pq não estava envolvido. Não tem como saber, só observar, certo? As palavras são muito além das que são e podem ser ditas... E aprofundando... E se fosse verdade? Se estivesse numa situação semelhante, o que faria por seu ser amado? É dificil saber quando não se vive. Não podemos ignorar o pior estado de sentimento humano que é a depressão ou o sentimento de solidão, Clóvis... Só que passa na alma é quem sabe... Quem liga para pedidos de socorro? Muitas vezes, nem a polícia, nem o SAMU, nem os amigos pq simplesmente acham que damos conta... Já passou por algo assim?
    Abraço fraterno,
    Lilith

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  6. Não me conformo... Isso está muito além da compreensão... Nem no coma deu prá ver com seus próprios olhos? Ninguém te contou... vc viu... Uma coisa é a possibilidade de erro por sintonia entre o que vc gostaria e o que é, outra é algo que vc viu, ninguém te contou...
    Nem tenho mais o que dizer... Beleza... Próximo assunto...
    Lilith

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  7. Clóvis... Vc era a pessoa que eu procurava compreensao, apoio, companhia... Pq fez isso? De todo mundo... vc nao...

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