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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Mensuração

                   Uma palavra, cujo significado é o ato de medir, de colocar valor a alguma coisa, no nosso caso, medir em dinheiro um acontecimento, um coração de mãe.
A poucos dias atrás fomos chamados a um hospital, no período da manhã para acompanhar um paciente, ou melhor, a mãe de um paciente.

Como esse pedido partiu de um telefonema as 07:15 da manhã pela própria mãe, e com reforço de um grande Irmão, levantei meio sonado, fui a um banho, coloquei uma roupa e lá fomos.

Chegando ao hospital nos deparamos com a mãe, já desesperada e me foi contando logo a sua história.

Ouvi atentamente a história, concordando com seu desabafo, e antes de ver o filho, fomos até o lado de fora do hospital, de onde estávamos aguardando a imprensa televisiva, que nesta altura do campeonato estava a caminho.

A repórter ouviu a mãe e fazendo sua anotação da história e começou então a gravar a reportagem segundo seu entendimento.

Foram muitos minutos de gravação, até mesmo para fazerem as edições, onde novamente essa mãe, falava para câmera, novamente, tal como nos havia narrado, desta vez a um público virtual.

Depois da entrevista, fomos visitar o garotão, que já estava melhor, e ficamos fazendo a visita, agora não como advogado, mas como um amigo da família, amizade formada naquele momento.

Após bem umas quatro horas de visita, essa mãe me acenou a vontade de processar o hospital pelo erro hospitalar, contra a instituição da qual o seu filho havia passado.

Começamos novamente a ouvir novamente, toda a história, tim tim por tim tim, fazendo agora nossas anotações, recolhendo as provas para darmos início ao processo, cujo valor iria atenuar um pouco do coração de mãe.

No período dessa conversa, no meio de domingo até a data de hoje, ficamos entre reuniões, serviços pessoais e particulares, numa jornada de ir e vir do hospital ao escritório e vice e versa, tudo isso para fazer a tal ação.

Sem colocar aqui o mérito da ação, chegamos a um empasse, e esse é o nosso grande problema. Como mensurar o sofrimento de uma mãe?

A que valor dar-se-á a ação, cujo propósito era inicialmente em conseguir para o garoto um tratamento digno e com responsabilidade, sem deixar de fazer justiça.

O que se passa no coração de mãe ao ver o filho sentindo-se mal, e quanto vale essa dor?

A quanto deve ser pedido, a título de amenizar o sofrimento do filho, cujo valor não paga a saúde de ninguém.

Fomos então indagar a essa mãe sobre o valor que gostaria receber, e daí mudou-se o discurso ao ver que poderia receber valores monetários.

Informamos a mãe e ao paciente que não concordávamos com qualquer valor falado, mas iríamos lutar com toda a gana para que o desejo desta mãe fosse realizado.

Colocamos em palavras muito claras a essa mãe, que um único real recebido indevidamente caracteriza enriquecimento ilícito, mas que um bilhão de reais recebido honestamente não teria a conotação de enriquecimento ilícito, mas sim reparação de um dano que havia acontecido.

É uma grande e engenhosa manifestação cerebral, onde o justo tem que ser realizado sem deixar que a injustiça impere não dando a mãe o que ela realmente merece.

Pedir, como falei a essa mãe, o valor que ela falar nós iremos pedir, que o papel aceita qualquer coisa, que tudo que ela falou estaria no papel, mas daí vamos novamente efetuar a pergunta:

Entre a doença e a saúde, entre as verdades e mentiras, entre o certo e o errado, o quanto realmente devemos pedir?

Deixo aqui essas reflexões.

Então, Prazer em Recebê-los

(Clóvis Cortez de Almeida)

9 comentários:

  1. Clara Hirano: Prezado e ilustre amigo Clovis Cortez de Almeida, quisera todos os causídicos tivessem todas estas ponderações que são, no meu modesto entender, valores de caráter! Numa hora destas faço imperar o valor que entendo razoável e não o que bem entende a exorbitância que o cliente supõe sempre ter direito! Não querendo ficar com os meus serviços sob esta ótica, onde deve imperar o caráter do profissional, a Missão e Política da banca, e o cliente indo embora; é um favor que se faz. Quem perde é ele e não eu!! Penso e ajo assim ao longo de mais de vinte anos!! Beijos!!

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    1. Obrigado minha querida Dra. Clara, por deixar bem transparente o que meu texto fala.

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  2. Oi, Mestre.
    Valores... Honestamente, não vejo a humanidade preparada para definir valores quantificando em moeda o sofrimento de uma mãe, pai, filho ou quem quer que seja. Veja... Se há separações de qualquer espécie... Eu como mãe, se tivesse perdido meu filho, iria querer como reparação a vida desse filho, não o pagamento pela perda dele. O mesmo com qualquer situação: perda de filho, de amor, de possibilidade de vida... O dinheiro não consegue quantificar. Se assim fosse, muitas pessoas ricas e famosas, não teriam problemas e seriam felizes, correto?
    O que vejo, muitas vezes e isso é um julgamento meu, podendo até estar errado, é que as pessoas por qualquer coisa, pensam em dinheiro para tudo, como se isso comprasse felicidade. Não compra. Compram para si gaiolas de ouro somente com um pseudo-conforto, mas, daí vai a fábula de Monteiro Lobato dos dois cachorros: de "raça" e o vira-latas. Um usa coleira e só faz e vai para onde o "dono" deseja e o outro é livre e feliz e vai onde seu focinho o manda... :)
    Nessa de quantificar monetariamente o "sofrimento" dessa mãe, nao gostaria de estar na pele do advogado a defender essa causa, pois, acho alto, muito alto o risco de cair em injustiças e desmensuras de valores e moral. Quem sofre, sabe que seu sofrimento é "impagável" e que dinheiro algum cobriria tal sofrimento... Percebe onde quero chegar? :)

    Abraço fraterno, mestre... Prazer em recebê-lo, digo-vos mais uma vez...
    Lilith.

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  3. Obrigado Lilith pelas palavras. O Advogado em tela sou eu. Tenho agora a escolha de Salomão para fazer, entre a ética e a Justiça. Obrigado mais uma vez minha querida pelos comentários sempre bem pertinentes.

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  4. É uma visão, rsrs. Como disse, não sei se está certo ou não, mas, é uma visão. A gente sempre tem que partir de um ponto, o da consciência. :) O resto é tudo discutível.
    Abraço,
    Lilith

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  5. Tava aqui pensando numa coisa... Acho que eu estava certa... Era aquilo mesmo que eu supus... :)

    Sobre a Mensuração do texto:

    ‎"Não se faça tantas perguntas sobre o caminho. Apenas caminhe e deixe que as respostas cheguem a seu tempo; Elas já estão dentro de você; será o tempo que você possa assumi-las na prática, e não distorcê-las pela mente...Isto significa o equilíbrio!"

    ~ Sabedoria Oriental

    Abraço,
    Lilith

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  6. Vivendo e aprendendo. Confesso meu desconhecimento sobre esse pensamento, que vem a calhar com o meus pensamentos agora. Obrigado mais uma vez, e devolvo não com um pensamento, mas como uma das máximas Maçônicas. "Aprendei e Ensinai".

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  7. Oi, meu querido mestre... Sobre isso mesmo tb... De aprender e ensinar... Sobre minha primeira suposição tb. É que tem alguns momentos que fico sem saber se posso responder ou não, hoje estou sem saber.
    Algumas vezes, não te parece visitas condicionais onde se fica por uma portinha de vidro com vigias em volta?
    OK, sei que não me conhece, mas, um desabafo, só. Às vezes, até bom falar com um estranho ou amigo virtual.
    Tem horas que acho que não faço tanta parte do mundo e isso faz com que me sinta sozinha muitas vezes. Claro, tem dias que eu não estou nem aí prá isso, mas, algumas vezes como hoje, isso me importa muito pq não sei o que pensar sobre uma situação particular. Sabe aqueles momentos que vc acredita poder contar e se vê sem uma mão? É assim que me sinto hoje... Sem a tal mão.
    Tem horas que acho que sou eu quem cria muitas expectativas, mas, sempre me baseio num principio de como sou e, pelo jeito, devo ser um dos poucos seres humanos assim no mundo pq não acho uma pessoa sequer parecida. Tinha uma e foi arrebatado acho que por ela mesma, mas, o fato que sobra é que não tem mais, ficando esse o saldo total, o unico saldo que me importa. Acho que é assim mesmo que sentem quando falam de dinheiro, rs...
    Não sei se é a mesma coisa que estava pensando, mas, hoje me sinto como aquele barquinho meio a deriva no mar, como se eu fosse o único fusili num pacote de parafusos ou espaguetes... Ah, a propósito, feliz dia dos maçons...
    Abraço fraterno,
    Lilith.

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  8. Osho diz uma verdade, mestre...
    ""Num momento estava lá, no momento seguinte desapareceu.
    Em determinado momento, estamos aqui, e em determinado momento já passamos. E por este simples momento, quanta confusão criamos - quanta violência, ambição, conflito, raiva.

    Apenas por um momento tão breve! Estamos tão somente aguardando o trem na sala de espera de uma estação, e criando tanta confusão! Brigando, manipulando, tentando dominar, julgando, competindo - quanta política! Então, o trem chega, e você se foi para sempre."

    Abraço,
    Lilith

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