Ocorreu-me
numa reflexão quase tardia de um episódio acontecido ainda no meu Grupo
Escolar. Aquele mesmo da postagem de ontem.
Como
já disse, fiz todos os testes com o Diretor do Grupo Escolar, e fui então
promovido a aluno regular do Primeiro ano da Classe C, cuja professora era nada
mais nada menos que a grande e única professora ERCY SOARES NOVAES.
E
vou contar o porquê coloco o nome dela inteiro, em destaque, em letras
maiúsculas, em letras garrafais, com todos os elogios e méritos que tem essa
sempre mestra, professora no mais amplo sentido da palavra.
Minha
mãe foi minha primeira professora, ela me ensinou o be a bá da nossa
literatura, e ela não conta, porque mãe já viu, mãe é sempre nossa primeira
professora seja em qualquer matéria, mas nossa primeira professora, ou
professor, isenta de qualquer vínculo parental, livre de qualquer outro tipo de
ligação, essa sim, podemos considerar nossa primeira mestra.
Então,
posso falar com todas as qualificações, desta mulher, que dedicou ou está a
dedicar sua vida a ensinar jovens alunos, a matéria para a vida, essa é a que
podemos chamar de nossa primeira maestrina.
Então
voltando, lembro-me bem do primeiro dia de aula, dia em que fui recebido na
porta da sala, isso porque as aulas haviam iniciado em fevereiro de 1966, e já
estávamos em abril do mesmo ano.
A
classe de pé, em respeito aquele franzino aluno que estava com as pernas bambas
por ver tantos alunos, afinal de contas a classe tinha 32 alunos em seu total,
e eu lá parado, aguardando o anúncio e o convite para adentrar a sala,
acompanhado pelo Diretor do Grupo Escolar Costa Braga, em Guaratinguetá, São
Paulo.
A
voz do Diretor solicitando sua entrada em classe, mais o silêncio da classe em
respeito à autoridade presente pelo lado de fora, e aquela dama, uma verdadeira
e digníssima dama, em pé, dando sua aprovação para nossa entrada.
Era
o símbolo de uma autoridade justa, onde a autoridade máxima do Grupo Escolar
rendia sua máxima, aquela frágil mulher, mas gigante professora do primeiro ano
“C”, da sala 003 do Grupo Escolar.
Acenou-nos
a cabeça, indicando que tínhamos a autorização para entrada em sala, e mais do
que de pressa, a classe toda se levantou, alinhadamente, criteriosamente ao
lado direito da carteira escolar.
A
cena, ainda me faz emocionar, afinal de contas, era para uma criança a mais
manifesta atitude de sua importância na sociedade, mesmo que infantil, mas um
marco em minha vida.
Todos
em pé e o Diretor anuncia mais um aluno para compor aquele quadro de discente,
que deveria ser aceito pelos demais alunos, fora para mim uma glória, mais que
uma glória, um marco vital em toda minha vida.
Não
me recordo de recepção tão calorosa por parte de pessoas que sequer me conheciam,
que estavam ali paradas, prontas para recepcionar o mais humilde dos alunos.
Ainda
me lembro do uniforme que foi comprado para mim, uma alinhada calça curta de
cor caqui, pendendo para o marrom, uma camisa engomadíssima que minha mãe havia
exaustivamente colocado a goma de maisena associada à água e mais algum produto
que não me lembro de estalo.
Os
sapatos pretos e engraxados, reluzente negritude que contrastava com a meia de
cano longo, que vinha até o joelho, formando assim o uniforme do aluno do ano.
Cabelos
rigorosamente penteados, com um pouco de “Trim”, para que ficasse assentado e
para que o vento não me deixasse despenteado, uma bolsa de couro, linda bolsa
de couro, mas sem a lancheira transversa sobre o corpo, pois nunca tive como
objeto de transporte do lanche, um recipiendário específico para tal.
A
classe toda voltada para aquele que desejou, suplicou, chorou, e fez o que
nenhuma outra criança até então havia feito, como era de minha sapiência, aos
pais para estar ali, naquele momento, naquele estado gélido de extrema gratidão
aos pais e um medo mortal de ter que enfrentar aquele paredão de futuros colegas,
futuras crianças que me fariam socializar com o momento.
Mas
estava lá, ao meu favor a professora ERCY SOARES NOVAES, pessoa jovem aos meus
olhos hoje, mas que era uma perfeita mulher para aquele momento, pronta a falar
alguma coisa.
Então
voltou-se ao Diretor, que gentilmente lhe deu um papel. Era meu passe de
aceitação. Começou então ao mais belo discurso que uma criança poderia ouvir: “Queridos
alunos da primeira série “C” do Colégio Estadual Costa Braga, apresento-vos
nosso mais novo integrante da Sala, estou dizendo do nosso mais novo aluno
Clóvis Cortez de Almeida”. Era em idade física o mais novo aluno.
Adentrei
então à sala, com passos trêmulos e ainda inseguros, para aquela primeira de
muitas confrarias que adentraria ao longo da minha vida, postei-me então à
frente da glamorosa professora, arquei-me, e num gesto mais de respeito do que
de reverência, saudei minha primeira Maestrina.
O
tempo passou, logo no primeiro mês e eu já era o primeiro aluno da sala, e na
minha formatura, como era de praxe na época, ganhei um cartão de presente,
cartão este que já não o tenho mais, e fico triste ao lembrar.
No
cartão, uma espécie de postal, desses que compramos nas rodoviárias da cidade,
uma criança, junto a um céu lindo azul, com uma bola transparente em suas mãos,
cujo significado até então não havia sido revelado.
Em
seu verso, uma dedicação muito especial, palavras que levo comigo para toda
minha vida, ainda que tenha um milhão de anos: “Clóvis, meu aluno, desejo a
você o que de melhor poderia te desejar. Seja Feliz”.
Não
preciso dizer que ao longo de minha vida, tenho lutado para que esta profecia
jamais pereça.
Assim
sendo, emocionado, digo-vos Prazer em Recebê-los e Sejam Feliz.
Clóvis
Cortez de Almeida
Muito Linda ter essa recordação em seu coração. É, bem verdade, que no decorrer da nossa vida, serão ou quase não serão, o dia em que seremos esperado com olhares tão esplêndidos e curiosos, como aconteceu com você no seu primeiro dia de escola. E, seguir o recado que sua professora lhe passou, é a melhor opção para qualquer ser humano: ou seja, ser feliz. Muitas pessoas, se entristece ou são triste, porque, ficam a todo o tempo buscando essa tal felicidade. E, ela está, na maioria das vezes, no seu dia a dia. Acontece, que nunca aprendemos ou entendemos que ser feliz, é vivenciar a vida. É equilibrar nossas escolhas com nossas consequências. Portanto, a felicidade é um conjunto de valores às vezes em harmonia, e, outra hora em desarmonia. Devemos então, precisar esses instantes. Seja Feliz. Um grande abraço.
ResponderExcluirMuito obrigado minha querida. Gosto de postar coisas alegres e que façam diversão a todos, mas desta vez eu queria publicar algo que pudesse entrar no coração das pessoas. É sim um caso real, passagem que tive aos meus 6 anos. Suas palavras só veem somar a minha postagem. Obrigado
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ResponderExcluirJá conhecia essa passagem da sua vida, mas é muito bom ler e imaginar com suas palavras toda a sua vivência. Seja sempre feliz! Um beijo. Lourdes
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