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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ainda nas reflexões


Ocorreu-me numa reflexão quase tardia de um episódio acontecido ainda no meu Grupo Escolar. Aquele mesmo da postagem de ontem.

Como já disse, fiz todos os testes com o Diretor do Grupo Escolar, e fui então promovido a aluno regular do Primeiro ano da Classe C, cuja professora era nada mais nada menos que a grande e única professora ERCY SOARES NOVAES.

E vou contar o porquê coloco o nome dela inteiro, em destaque, em letras maiúsculas, em letras garrafais, com todos os elogios e méritos que tem essa sempre mestra, professora no mais amplo sentido da palavra.

Minha mãe foi minha primeira professora, ela me ensinou o be a bá da nossa literatura, e ela não conta, porque mãe já viu, mãe é sempre nossa primeira professora seja em qualquer matéria, mas nossa primeira professora, ou professor, isenta de qualquer vínculo parental, livre de qualquer outro tipo de ligação, essa sim, podemos considerar nossa primeira mestra.

Então, posso falar com todas as qualificações, desta mulher, que dedicou ou está a dedicar sua vida a ensinar jovens alunos, a matéria para a vida, essa é a que podemos chamar de nossa primeira maestrina.

Então voltando, lembro-me bem do primeiro dia de aula, dia em que fui recebido na porta da sala, isso porque as aulas haviam iniciado em fevereiro de 1966, e já estávamos em abril do mesmo ano.

A classe de pé, em respeito aquele franzino aluno que estava com as pernas bambas por ver tantos alunos, afinal de contas a classe tinha 32 alunos em seu total, e eu lá parado, aguardando o anúncio e o convite para adentrar a sala, acompanhado pelo Diretor do Grupo Escolar Costa Braga, em Guaratinguetá, São Paulo.

A voz do Diretor solicitando sua entrada em classe, mais o silêncio da classe em respeito à autoridade presente pelo lado de fora, e aquela dama, uma verdadeira e digníssima dama, em pé, dando sua aprovação para nossa entrada.

Era o símbolo de uma autoridade justa, onde a autoridade máxima do Grupo Escolar rendia sua máxima, aquela frágil mulher, mas gigante professora do primeiro ano “C”, da sala 003 do Grupo Escolar.

Acenou-nos a cabeça, indicando que tínhamos a autorização para entrada em sala, e mais do que de pressa, a classe toda se levantou, alinhadamente, criteriosamente ao lado direito da carteira escolar.

A cena, ainda me faz emocionar, afinal de contas, era para uma criança a mais manifesta atitude de sua importância na sociedade, mesmo que infantil, mas um marco em minha vida.

Todos em pé e o Diretor anuncia mais um aluno para compor aquele quadro de discente, que deveria ser aceito pelos demais alunos, fora para mim uma glória, mais que uma glória, um marco vital em toda minha vida.

Não me recordo de recepção tão calorosa por parte de pessoas que sequer me conheciam, que estavam ali paradas, prontas para recepcionar o mais humilde dos alunos.

Ainda me lembro do uniforme que foi comprado para mim, uma alinhada calça curta de cor caqui, pendendo para o marrom, uma camisa engomadíssima que minha mãe havia exaustivamente colocado a goma de maisena associada à água e mais algum produto que não me lembro de estalo.

Os sapatos pretos e engraxados, reluzente negritude que contrastava com a meia de cano longo, que vinha até o joelho, formando assim o uniforme do aluno do ano.

Cabelos rigorosamente penteados, com um pouco de “Trim”, para que ficasse assentado e para que o vento não me deixasse despenteado, uma bolsa de couro, linda bolsa de couro, mas sem a lancheira transversa sobre o corpo, pois nunca tive como objeto de transporte do lanche, um recipiendário específico para tal.

A classe toda voltada para aquele que desejou, suplicou, chorou, e fez o que nenhuma outra criança até então havia feito, como era de minha sapiência, aos pais para estar ali, naquele momento, naquele estado gélido de extrema gratidão aos pais e um medo mortal de ter que enfrentar aquele paredão de futuros colegas, futuras crianças que me fariam socializar com o momento.

Mas estava lá, ao meu favor a professora ERCY SOARES NOVAES, pessoa jovem aos meus olhos hoje, mas que era uma perfeita mulher para aquele momento, pronta a falar alguma coisa.

Então voltou-se ao Diretor, que gentilmente lhe deu um papel. Era meu passe de aceitação. Começou então ao mais belo discurso que uma criança poderia ouvir: “Queridos alunos da primeira série “C” do Colégio Estadual Costa Braga, apresento-vos nosso mais novo integrante da Sala, estou dizendo do nosso mais novo aluno Clóvis Cortez de Almeida”. Era em idade física o mais novo aluno.

Adentrei então à sala, com passos trêmulos e ainda inseguros, para aquela primeira de muitas confrarias que adentraria ao longo da minha vida, postei-me então à frente da glamorosa professora, arquei-me, e num gesto mais de respeito do que de reverência, saudei minha primeira Maestrina.

O tempo passou, logo no primeiro mês e eu já era o primeiro aluno da sala, e na minha formatura, como era de praxe na época, ganhei um cartão de presente, cartão este que já não o tenho mais, e fico triste ao lembrar.

No cartão, uma espécie de postal, desses que compramos nas rodoviárias da cidade, uma criança, junto a um céu lindo azul, com uma bola transparente em suas mãos, cujo significado até então não havia sido revelado.

Em seu verso, uma dedicação muito especial, palavras que levo comigo para toda minha vida, ainda que tenha um milhão de anos: “Clóvis, meu aluno, desejo a você o que de melhor poderia te desejar. Seja Feliz”.

Não preciso dizer que ao longo de minha vida, tenho lutado para que esta profecia jamais pereça.

Assim sendo, emocionado, digo-vos Prazer em Recebê-los e Sejam Feliz.

Clóvis Cortez de Almeida

 

 

4 comentários:

  1. Muito Linda ter essa recordação em seu coração. É, bem verdade, que no decorrer da nossa vida, serão ou quase não serão, o dia em que seremos esperado com olhares tão esplêndidos e curiosos, como aconteceu com você no seu primeiro dia de escola. E, seguir o recado que sua professora lhe passou, é a melhor opção para qualquer ser humano: ou seja, ser feliz. Muitas pessoas, se entristece ou são triste, porque, ficam a todo o tempo buscando essa tal felicidade. E, ela está, na maioria das vezes, no seu dia a dia. Acontece, que nunca aprendemos ou entendemos que ser feliz, é vivenciar a vida. É equilibrar nossas escolhas com nossas consequências. Portanto, a felicidade é um conjunto de valores às vezes em harmonia, e, outra hora em desarmonia. Devemos então, precisar esses instantes. Seja Feliz. Um grande abraço.

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    1. Muito obrigado minha querida. Gosto de postar coisas alegres e que façam diversão a todos, mas desta vez eu queria publicar algo que pudesse entrar no coração das pessoas. É sim um caso real, passagem que tive aos meus 6 anos. Suas palavras só veem somar a minha postagem. Obrigado

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  2. Já conhecia essa passagem da sua vida, mas é muito bom ler e imaginar com suas palavras toda a sua vivência. Seja sempre feliz! Um beijo. Lourdes

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