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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Choque Elétrico


Sabe, sempre achei legal ser o protagonista de alguma coisa, e por achar isso legal, com a força do pensamento atraímos essas coisas para nós, principalmente quando estamos comungando com quem amamos.
Atração é a palavra perfeita que encontrei para descrever o que houve comigo, na minha juventude, no interior da minha casa, na Av. 04 da Base Aérea de São Paulo, Cumbica.
Como era de praxe, em 1975 levantávamos, tomávamos nosso banho, depois café rápido com um pouco de frutas, queijo, manteiga e não margarina, leite, café, um suco de laranja, enfim era um verdadeiro pequeno almoço como se fala na Terra Portuguesa, e depois com o estômago bem cheio, pegávamos uma condução para ir à escola.
Assim fiz meu dia, com toda a pompa possível, afinal de contas estávamos próximos ao mês de Junho, e daí a fominha vinha com maior furor, mais intensidade.
Depois de um período de aula, que mais parecia um dia completo, aulas de Capacitância, Resistência, Indutância, Fórmula das Malhas, Fórmula dos Nós, Eletricidade básica, Eletrônica Avançada (a válvula na época), já me preparava para ir para casa, afinal de contas a fome era tanta.....
E lá vai eu para o ponto de ônibus pegar o Haroldo Velozo, um bairro afastado de Guarulhos, e ainda é afastado, para quem saía do Tatuapé, mais propriamente da Avenida Celso Garcia, no colégio Lavoisier, onde fazia o meu colegial técnico.
Depois de quase uma hora e meia de ônibus, pois naquele tempo ainda não tinha congestionamento, já se aproximava dos portões da Basp, onde depois de uma simples identificação, já que era morador, chegaria com mais uns quinze minutos de caminhada a chegada e tão gostosa casa.
Chegaria, tomaria um banho e iria almoçar, palavra mágica para um adolescente em crescimento não só intelectual mas também físico, o que me faria mais do que bem, seria ótimo. Depois iria descansar por mais uns dez minutos e sentar no quarto para fazer as lições de casa (havia e muito naquela época).
Pois bem, naquele dia depois de chegar a Basp como falei, caminhei um pouco e iria satisfazer o meu estômago, que para o menor observador, já ouvia de longe as roncadas pela falta de Alimentação.
Fui chegando e logo entrando pela cozinha, entrada de serviço como é hoje chamado, para tomar as bênçãos de minha Mãe, que nessa altura do campeonato já estava nos finais do tão almejado manjar dos deuses.
Em casa, até por uma condição de economia, tínhamos um fogão que posso afirmar, nada convencional, pois não era movido a butano, ou melhor, ao gás de cozinha como a maioria hoje conhece.
Tratava-se de um fogão elétrico, mas não os de hoje convencionais, mas um em que fazíamos as combinações de “fogo alto”, ou “fogo baixo” através de combinações matemáticas entre pinos vermelhos e pretos que ia se embutindo nas entradas do fogão.
Então para que a “chama” da frente ficasse em “fogo” alto, você tinha que colocar dois fios pretos na parte superior daquela boca, associado a um vermelho, e assim por diante. Se você quisesse um “fogo” baixo no grelha do fundo, deveria colocar os pinos vermelhos e um preto nos pinos de entrada relativo aquela grelha.
Para cada ação tem uma reação, isso é física, e não poderia ser diferente. Até mesmo para evitar um choque elétrico, meu pai havia construído um patamar de madeira, assim isolaria quem estivesse manipulando o fogão, e poderia fazer a comida sem problemas.
Então voltando, eu chegava na porta da cozinha naquele dia, e fui me endereçando próximo ao fogão, onde minha mãe se encontrava, grelhando um belo e bom bife, que cheirava ao longe.
Não havia percebido que o chão estava molhado, devido a uma lavagem na cozinha que nossa secretária havia feito naquele dia, e com a aproximação já fui falando: “Sua benção minha mãe” e dei meus lábios ao encontro do rosto daquela que morre de medo de choque até de pilha de um volt e meio.
Mal encostei meus lábios naquele rosto macio e aconchegante, quando não só eu, mas ela também, fomos surpreendidos com uma baita descarga elétrica, descarga esta que o arco voltaico formado entre nós era mais apertado que abraço de urso.
Foram alguns segundos vendo estrelas, constelações, e todos outros tipos de astros, em que meus lábios se trincavam rapidamente, e o rosto daquela meiga senhora se enrugava deixando uma rosácea em sua face.
Foi uma atração fatal, em que meus lábios ficaram grudados no rosto de minha mãe, atração esta que ainda nos recordamos, eu hoje com cinquenta e dois anos e minha mãe, deixa pra lá, ainda sorri muito com esta história, onde o físico Clóvis, acaba de ser atraído por uma manifestação normal da natureza, onde o choque é o nome que se dá para a descarga elétrica.
Ainda bem que eu era estudante de Eletrônica na época, não que o choque teria sido menor, mas pelo menos foi melhor compreendido.
Dessa forma e depois com vários minutos de recuperação, minha mãe me falou: “Deus te abençoe meu filho”, ela ainda gelada, em meios a gargalhada de alegria ou ao choro do medo.
Portanto digo que Atração foi a melhor palavra que encontrei para descrever este episódio, então: Prazer em Recebê-los.

4 comentários:

  1. Meu amigo eu tenho pavor de choque,tomei um na geladeira da minha mãe que até hoje me recordo,outro lugar que tenho o maior medo é de choque em chuveiro.Sabe fui até fazer um curso de eletricista pra ver se acabaria com o medo,que nada continuei na mesma,kkkkk

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  2. Obrigado querida,continue visitando, sempre terá surpresas.

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  3. Boa tarde, amado mestre. :)
    Até parece conversa do Rolando Lero da Escolinha do Professor Raimundo, mas, verdade... Amado mestre. :)
    Muito engraçada essa história... Me fez lembrar de quando nasci, uma feliz época ocorrida tb em 1975, e se te serve de consolo, passávamos fome tb pq nenê só come e dorme, rs. Pelo que posso me lembrar da época, eu vivia nessa de comida.
    O choque tb posso partilhar contigo, já que sou uma pessoinha elétrica e de altíssima voltagem, a ver pelo fato de sempre estar por aqui e não deixar que fique uma postagem em paz. :)
    Adoro vc! Muito divertido!
    Continue postando!!!
    Abraço fraterno,
    Lilith. :)

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  4. Oi, mestre.
    Não dá prá ler os comentários.
    Abraço fraterno,
    Lilith

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