Todos ou quase todos
sabem da dificuldade em achar uma vaga em qualquer um dos shopping
aqui de São Paulo, principalmente em véspera de férias, feriados,
eventos natalinos e outros quaisquer.
Não foi diferente
comigo no ano de 2005, quando fui fazer o sacrifício de fazer
compras, compras natalinas para ser mais detalhista, em um Shopping
da zona Leste de São Paulo, mais precisamente, Aricanduva.
Chegamos, pois estava
eu e minha esposa no local, com aproximadamente duas a três horas de
antecedência para começar a temporada de caça (hora do movimento)
nos estacionamentos do estabelecimento para ver se há vagas.
Começa da seguinte
forma, você entra na catraca e vê um aviso: “Disponibilidade de
2.500 vagas para carros”, e você se enche de expectativa achando
que lá está a sua, paradinha no lugar, de preferência numa sombra,
ou no lugar coberto, onde você vai parar, retirar aquele casaco
pesado que você saiu de casa na espera do frio, retirar aquele
óculos escuros da qual você portava no peito, e daí sim, fazer o
planejado caminhar nos corredores do Shopping.
Sem muita dificuldade,
você avança na catraca, abaixa o seu vidro, estica bem o seu braço,
pois o totem de tickets fica bem afastado, toma um pouquinho de chuva
se estiver chovendo, molha o ticket, guarda no bolso ou então bota
na boca, para começar a andar, vagarosamente por entre carros,
automóveis, ruas e avenidas, milhões de buzinas tocando sem parar.
Põem uma primeira no
carro, se não for automático, e tirando o pé da embreagem,
vagarosamente você começa a se deslocar.
Passa por uma rua,
entra na segunda, depois vai para a terceira, e daí você começa a
perceber que não será tão fácil assim, mas afinal de contas você
já está lá, o presente também se encontra na loja, e você, que
já está de banho tomado, perfumado, de bom humor, não se aflige.
Começa a comentar com
(no meu caso) a companheira do lado sobre “como está cheio, não é
mesmo?”, e vai passando por avenidas, lotadinhas de carros.
Duas mil e quinhentas
vagas, não será tão difícil assim para encontrar aquela que vai
te levar ao orgasmo precoce de uma parada.
Mas naquele dia não
estava tão fácil assim, e mesmo com essa quantidade de vagas não
parecia que tinha mais do que vinte e cinco vagas, todas completas e
sem o menor sinal de que se esvaziaria assim tão rápida.
Um casal sai do
Shopping, e lá vamos nós, atrás do casal, devagar, bem devagar,
para ver para que ruela eles vão se dirigir, para que cheguemos
junto a eles e captemos sua preciosa, sua cobiçada, salve salve vaga
querida.
Não demos sorte desta
vez, eles estavam a pé. Imaginem, fazendo compra a pé no Shopping,
não era possível aquela situação.
A impaciência começava
a tomar conta, além da forte e grande vontade de ir ao banheiro para
aliviar as águas tomadas nesse intervalo de 58 e meio minutos de
busca.
Não que de repente
vimos uma vaga, ali paradinha, ótima, longe da porta do shopping mas
era ali a vaga que procurávamos.
Também não podia ser
outra, estava de encomenda, com aquele jeitinho de quem estava nos
esperando. Quando falo em quem, não é exagero meu, mas sim, era
quem estava nos esperando.
Botei uma primeira no
carro, agora com muita pressa, como um Fitipaldi fui fazendo voltas
entra carros para poder estacionar o Astra que dirigia.
Foi um tal de corta
daqui e dali, passa pelo meio fio, corta pela direita, entorta-se
mais a esquerda e............
Uma mulher, com
aproximadamente 120 kilos, portando uma bolsa de um lado, uma sacola
do outro, com um ar de satisfação em seu rosto, apresentando um
grau de tranquilidade estava ali, parada, sem esboçar qualquer
reação, na vaga.
Entrava com tudo,
quando me deparei com essa situação, e daí não tive dúvidas,
acelerei.
Sim, sem dó, pisei no
acelerador olhando para os olhos da mulher, e ela começou a olhar
para os meus. Foi uma troca de olhar, parecia um desafio.
Eu não desgrudaria
daquele olhar, e ela parecia pensar a mesma coisa, e o carro
começando a tomar velocidade. A chuva fraca não embaçava o vidro,
os faróis estavam estatelados naquele corpo enorme que se
encontravam entre os carros.
Foram longos segundos
de travamento de olhares, e daí, meu carro não deixou dúvidas.
Iria parar onde aquela mulher estava parada.
Embicado fui entrando
enquanto ela, lógico, personagem mais fraco da situação, foi se
afastando, mas não sem o protesto.
“Estou aqui guardando
o lugar para um Fusca” dizia ela, irritada com minha atitude meio
tresloucada, com o Astra prata que andava por aquelas avenidas de
carros.
Não teve outra
condição. EU SOU O FUSCA, ficou para sempre em minha memória.
Descemos e fomos até o
shopping, mas comprar o que mesmo?
Prazer em Recebê-los.
Bom dia, mestre...
ResponderExcluirCaramba... torci para o fusca... :) Isso também é beeeem profundo. :)
Abraço fraterno.
Lilith.
Poxa minha querida, pensei que você fosse minha amiga.
ExcluirObrigado pelas palavras.
Continue a ver o blogue.
Oi, amado! Eu sou... Sabe que sou... Sabe que vejo sempre o lado do humor também. Achei engraçada a história pq é uma situação comum nessa época... O que quis dizer é que a vida muitas vezes parece desigual, se olhar do lado físico e material onde vemos em nossa política valores sendo corrompidos por ganancia ou dinheiro. O que disse que torcia pelo fusca é que representava o povo em face ao outro carro que poderia representar a elite, entende? De repente, em um estacionamento e em uma questão tão pequena, o povo se sobressai... Independente de quem pilotasse, digamos assim. Se vc estivesse pilotando o fusca, tb estaria torcendo por você. Não torci pela pessoa, torci pela situação... :) Claro que vou ver seu blogue... Adoro!!! :)
ExcluirAbraço fraterno.
Lilith